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Motores serão reinventados até 2020

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, a poluição e os congestionamentos nas grandes metrópoles, associados aos altos preços dos combustíveis nos últimos anos, têm levado os grandes fabricantes globais na Ásia, Europa e Estados Unidos a desenvolver veículos com motores a combustão cada vez mais econômicos e eficientes, com reduzido nível de emissões. A perspectiva de agravamento desse quadro deve fazer com que a indústria automotiva invista ainda mais em inovações.

Estudo realizado recentemente pela Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a Ernst & Young Terco, aponta que o preço dos combustíveis, como gasolina e diesel, deverá mais que dobrar até 2020, em função da defasagem entre o crescimento da demanda e a incorporação de novas reservas de petróleo. Já a consultoria internacional Boston Consulting Group trabalha com projeções entre US$ 130 e US$ 180 para o preço médio do barril no fim desta década – atualmente gira de US$ 110 a US$ 120.

Até lá, os fabricantes europeus, que concentram os mais significativos avanços na tecnologia de motores compactos e econômicos, deverão melhorar ainda mais o rendimento energético de seus veículos, de forma a aumentar a sua autonomia em quilômetros e reduzir a emissões de poluentes. A marca de 30 km/litro já é alcançada hoje por alguns modelos com motores turbodiesel na Europa e deverá se massificar por toda a indústria mundial. Até 2020, não seria demais supor esses carros alcançarem perto dos 50 km/litro, com a introdução de inovações no conjunto motor/transmissão e em outros componentes.

MENOS COM MUITO MAIS

“Só na última década tivemos ganho de 15% a 20% na autonomia dos veículos movidos com motores a combustão. Hoje, um motor de quatro cilindros produz quase tanta potência quanto um V8 dos anos 80, de 200 cv, que fazia de 5 km/l a 6 km/l. Comparado aos 10 a 12 km/l de um motor moderno atual a gasolina, com potência equivalente, esse ganho é de 100% nos últimos 20 a 30 anos”, afirma Glauco.

Um exemplo europeu recente é o motor 1.0 EcoBoost da Ford, de apenas três cilindros, que com ajuda de injeção direta, turboalimentação e bloco de alumínio produz de 100 a 125 cavalos, dependendo da configuração, o mesmo que muitos motores aspirados de 1,6 a 2 litros. Isso sem falar de uma variante 1.0 esportiva, que deverá atingir entre 170 cv e 180 cv, com turbo auxiliado por compressor elétrico. Essa é uma prova do que a tecnologia atual é capaz. O outro é o novo Fiesta ECOnectic, que acaba de ser lançado no mercado europeu. Equipado com motor turbodiesel, o carro é capaz de fazer média de 30,3 km/litro, de acordo com as normas do European Fuel Economy.

Entre as modificações que o hatch da Ford recebeu destacam-se alguns avanços da tecnologia, como calibragem fina do motor, reescalonamento das marchas, alterações na suspensão e modificações de alguns detalhes na carroceria para aumentar a eficiência aerodinâmica. Além disso, o modelo traz o start-stop (que desliga o motor quando o carro para em cruzamentos e volta a ligá-lo ao se tirar o pé do freio), sistema regenerativo que aproveita energia dos freios, indicador do momento ideal para troca de marchas e pneus de baixa resistência à rodagem (ou atrito com o piso), entre outros recursos.

A mesma preocupação com rendimento energético e redução de consumo de combustível está presente hoje nos Estados Unidos, um dos maiores consumidores do mundo de derivados de petróleo. Visando reduzir a dependência de fontes de energia externa, por exigência do governo federal os fabricantes americanos serão obrigados a produzir veículos com uma autonomia média de 23 km/litro até 2025, uma meta elevada, considerando-se o padrão dos modelos vendidos naquele país.

“A frota de veículos nos Estados Unidos está mudando de perfil. Os motores V8 estão sendo banidos, dando lugar aos de quatro cilindros, e os carros médios já respondem por 25% das vendas de novos. Há, no mundo, uma tendência muito grande de minimização dos motores”, afirma Glauco.

Fabricantes como Audi, BMW, Mercedes-Benz, Volkswagen e Ford têm liderado na Europa as inovações para motores a gasolina e a diesel, enquanto a francesa PSA Peugeot Citroën (agora associada à General Motors) têm se destacado no desenvolvimento de tecnologia a diesel. Estados Unidos e Japão mostram que procuram recuperar terreno nessa área, haja visto o elevado número de patentes registradas por fabricantes e fornecedores de autopeças nos dois países entre 2000 e 2010, no que se refere a componentes voltados para a redução de emissões, turbocompressores, supercompressores (para diesel e gasolina), sistemas de recirculação de gases do escapamento, sistema de comando de válvulas inteligentes e a redução de peso dos veículos, informa relatório do Boston Consulting Group.

Com a atual massificação dos turbocompressores e a introdução de recursos tecnológicos como comandos variáveis de válvulas, injeção direta de combustível, entre outros itens, a potência dos motores deverá se manter elevada, mas os carros ficarão mais econômicos e terão menor nível de emissões de poluentes. “A utilização de motores a diesel, que já representa 50% das vendas de carros de passeio na Europa, também vai crescer no mercado americano. Até 2015, esses propulsores deverão chegar a 8% dos veículos por lá e atingir de 12% a 15% em 2020”, explica Glauco.

COMO FICA NO BRASIL?

Hoje, enquanto os motoristas europeus e asiáticos rodam centenas de quilômetros sem precisar reabastecer, os brasileiros fazem contas para poder economizar alguns trocados na hora de escolher entre etanol ou gasolina nos carros flex .

Apesar do atraso tecnológico e do baixo rendimento energético dos motores bicombustíveis nacionais, a onda de motores eficientes deverá chegar ao Brasil a partir de 2014. Pelo menos duas montadoras já pesquisam a aplicação dessas novas tecnologias no País: a Ford com o motor EcoBoost e a Fiat com o MultiAir. Ambos poderão equipar os futuros compactos globais das duas marcas feitos no Brasil, em data ainda não prevista.

Segundo a Fiat, graças ao controle variável do tempo de abertura das válvulas de admissão de ar, o propulsor MultiAir oferece mais potência e disponibilidade de torque em todas as faixas de rotações, resultando em economia de combustível e baixa emissão de poluentes.

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