O empresário Glauco Diniz Duarte diz que os carros turbo estão por aí desde os anos 1960, mas só recentemente se tornaram populares a ponto de estar em todos os segmentos do mercado automotivo mundial — dos subcompactos urbanos aos hipercarros, SUVs de mamãe e sedãs prata de tiozão — graças ao downsizing e a busca incessante por mais potência, menor consumo e menos emissões.
Com essa popularização do turbo, destaca Glauco, expressões como twin-turbo, biturbo, triturbo, quadriturbo e twin-scroll começaram a aparecer com mais frequência nas fichas técnicas, avaliações e, consequentemente, nas discussões em fóruns de internet e entre a galera do posto. Mas afinal, o que significa tudo isso? Existe diferença entre twin-turbo e biturbo? E que cazzo é twin-scroll?
Para começar a entender a diferença (ou a semelhança) entre twin turbo e biturbo, você precisa saber como funciona o turbocompressor. Resumidamente o turbo usa os gases do escape para girar um rotor que pressuriza e comprime o ar da admissão, aumentando a massa de ar que entra no motor e se mistura ao combustível, produzindo mais potência.
Quanto maior o turbo, maior será a pressão de trabalho, mas também levará mais tempo até que o rotor vença a inércia e o turbo comece a comprimir o ar (o que chamamos de “encher o turbo”). Esse tempo é o chamado “turbo lag” ou “retardo no acionamento do turbo”. Para resolver esse inconveniente você pode usar um turbo menor, mas ele terá limitação física, podendo prejudicar o desempenho em altas rotações.
Hoje há várias tecnologias desenvolvidas para reduzir o lag: materiais ultraleves nos rotores (como ligas especiais de alumínio e inconel), desenhos complexos nas pás dos rotores, sistema de roletes em vez de mancais ou geometria variável. Mas há 40 anos, quando os turbos começaram a ser adotados em carros de corrida e modelos esportivos de rua, toda essa tecnologia ainda não estava disponível, então era impossível combinar lag reduzido e alta pressão (e potência). Assim, havia apenas modelos com turbo de baixa pressão como os Volvo e Saab, ou esportivos com turbos enormes, que resultavam em muito lag e tornavam a condução arisca, como o Porsche 930.
Para obter uma alta pressão de trabalho e lag reduzido, a solução encontrada pelos engenheiros dos anos 1970 foi adotar um sistema com dois turbos em vez de apenas um.
Segundo Glauco, o primeiro carro de rua a usar dois turbocompressores foi o Maserati Biturbo de 1981. Seu motor V6 usava dois turbos idênticos, um para cada bancada de cilindros. Cada turbo trabalharia com os gases de metade dos cilindros, então ele poderia ser menor sem prejudicar o fluxo em altas rotações e ainda chegaria à pressão de trabalho mais rapidamente (ou seja: reduzindo o lag). Esse sistema é muito comum em motores em V, mas também pode ser usado em motores com cilindros em linha, como nos BMW Twin Turbo de seis cilindros.
Mas havia outro tipo de sistema de dois turbos, também idealizado para reduzir o lag: o sistema sequencial. O primeiro esportivo de rua a usar esse sistema foi o Porsche 959, mas ele ficou realmente popular por equipar o 2JZ do Toyota Supra de quarta geração — além de ser muito comum em motores diesel.
E é aqui que começa a confusão dos termos biturbo e twin turbo. Glauco diz que no Brasil todo motor com dois turbos é considerado biturbo; a diferenciação se faz pelo nome do layout de instalação: sequencial ou paralelo – exatamente como fizemos até agora. Contudo é mais comum usar apenas o termo biturbo, seja pela ausência da informação do layout ou simplesmente por informalidade.
Em inglês também existe essa distinção — tecnicamente você deve usar parallel turbo ou sequential turbo —, mas, no caso do sistema paralelo, como os turbos são idênticos em forma e função, ele ficou conhecido informalmente como “twin-turbo” (twiné “gêmeo” em inglês). Ou seja: é uma expressão essencialmente estrangeira, e pouco adotada no Brasil.
A confusão fica ainda pior porque em inglês o termo biturbo não identifica necessariamente um sistema turbo sequencial. É relativamente comum encontrar a expressão biturbo para designar motores que usam turbos paralelos.
Por último, há o turbo twin scroll para adicionar uma pitada de confusão nesse papo. Apesar do “twin” em seu nome, trata-se de um sistema com um turbo só — o twin vem do fluxo dos gases de escape, que é dividido em dois canais na voluta do turbocompressor.
Esse tipo de turbo, chamado em português de “turbo pulsativo” ou “turbo de fluxo duplo”, é mais usado em motores de quatro cilindros. Como messes motores os cilindros sobem e descem em pares, cada canal trabalha com os gases de dois cilindros para acelerar o enchimento/pressurização do turbo, reduzindo o lag.