GLAUCO DINIZ DUARTE – Brasil precisa de mais usinas hidrelétricas para evitar blecautes, diz especialista
O Brasil precisa de mais usinas hidrelétricas para garantir o abastecimento de energia e evitar apagões, como o que aconteceu na tarde da última terça-feira (4). A afirmação é do diretor da ONG Ilumina, Roberto D’Araújo. A organização é composta por especialistas do setor energético.
Segundo D’Araújo, nem a falta de chuvas ou o baixo nível dos reservatórios — elevando o consumo de energia em função do calor — não justificam a falta de energia no País. Para o diretor da Ilumina, o Brasil dá claros sinais de que não está conseguindo gerar energia suficiente para garantir o abastecimento.
— Nós estamos com as térmicas ligadas desde 2012 e ainda conseguimos esvaziar reservatório, então, o que está acontecendo? Está faltando usina. Há indícios de que estamos precisando de mais usinas, se nós não estivéssemos precisando não estaríamos com as térmicas ligadas desde 2012.
Em coletiva convocada às pressas na tarde de ontem, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, negou que a quantidade de hidrelétricas no País seja insuficiente para a geração de energia.
D’Araújo questiona as declarações do governo de que o sistema energético brasileiro está equilibrado. O especialista afirma que o apagão que afetou cerca de seis milhões de pessoas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oestemostra que não se pode descartar risco zero de apagões.
— O custo de operar [termelétricas] é muito alto, é inacreditável que se ache que o sistema está em equilíbrio sem nenhum risco de racionamento quando você está gerando contas bilionárias para o próprio governo. […] Nós somos um País tropical, estamos sujeitos ao risco de racionamento, sim. A pessoa que disse para o ministro que há risco zero, não conhece nada de sistema elétrico.
A energia gerada pelas térmicas é mais cara do que a produzida por hidrelétricas. As térmicas são uma espécie de reserva, só são ligadas quando as usinas hidrelétricas não conseguem gerar eletricidade suficiente para abastecer o País. O custo extra de se produzir esse tipo de energia chega a R$ 1 bilhão por mês.
D’Araújo acredita que a finalização das usinas em construção no Rio Madeira poderia amenizar a situação.
O especialista em gestão de risco, Jeferson D’Dadario aponta outro fator para a crise energética e concorda com D’Araújo: falta transparência nas informações repassadas pelo governo.
— Falta planejamento estratégico e continuidade de planos. Agora [apagão de terça-feira] foi uma demonstração de que os planos não estão adequados. Percebemos um certo descaso com o planejamento de risco, tem que apostar em novas fontes, é uma questão de segurança. Com certeza está sobrecarregando o sistema. O governo está omitindo, seria mais prudente assumir.
Falta de coordenação
D’Araújo levanta como hipótese para o apagão desta terça-feira (4) uma incompatibilidade entre os sistemas das seis geradoras que administram a subestação de Colinas, em Goiás, onde ocorreu o desligamento das chaves de energia.
— A subestação é coordenada por seis operadoras diferentes, imagina um mesmo local sendo administrado por seis proprietários diferentes, pode haver incompatibilidade dos sistemas de geração e transmissão. Nesse caso, o sistema protegeu o circuito, o apagão poderia ter sido pior.
O governo não tem uma explicação exata para o que ocorreu. Segundo o diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, as causas da falha no sistema de transmissão só serão conhecidas após uma reunião que será realizada nesta quinta-feira (6).
Executivos do órgão se reúnem com Aneel ( Agência Nacional de Energia Elétrica), MME (Ministério de Minas e Energia), geradoras, transmissoras e distribuidoras envolvidas na ocorrência.
Chipp também negou que o problema foi causado por falha nos equipamentos ou falta de investimentos em manutenção. De acordo com o ONS, as falhas ocorreram em linhas de transmissão da Taesa, da Intensa (empresa formada pelo FIP Brasil Energia, Chesf e Eletronorte) e da Eletronorte. A onda de calor e o aumento do consumo também foram descartados.