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GLAUCO DINIZ DUARTE  Cinco tendências do setor de energia no Brasil para 2019

O mercado brasileiro de energia segue em transformação com o impacto de novas tecnologias e conceitos embalados por um discurso global de transição para uma matriz energética menos poluente e consumidores mais empoderados. A Brasil Energia lista a seguir cinco tendências para 2019, apontadas em eventos e entrevistas recentes.

1 – Armazenamento: primeiras aplicações em sistemas isolados e serviços para a rede

Ao longo de 2018, foram realizados projetos pilotos e anunciadas as primeiras licitações para contratar sistemas de armazenamento de baterias. Em 2019, o governo federal promoverá leilão para atendimento aos sistemas isolados de Roraima, com espaço para projetos de armazenamento concorrerem a contratos de 15 anos de suprimento.

A tendência chama atenção de grupos como AES, que através da subsidiária AES Tietê, planeja participar tanto do leilão de Roraima quanto de licitação da Cteep para atendimento ao litoral de São Paulo. A companhia também estuda outras aplicações para os bancos de baterias, como a combinação com outras fontes de geração para contratos mais customizáveis de suprimento de energia.

Empresas como a BYD, uma das maiores fabricantes de baterias do mundo, anunciaram parcerias para desenvolver o mercado brasileiro, como um serviço de recarga de ônibus elétricos em Uberlândia com geração distribuída e parceria com a Alsol para explorar modelos de negócios para minigeração com armazenamento.

3 – Boom da geração distribuída

E por falar em minigeração, a geração distribuída no Brasil deve atingir e superar seu primeiro GW de capacidade instalada em 2019. O segmento já vem de um crescimento exponencial – adicionou 340 MW em 2018, contra 173 MW no ano anterior e 68 MW em 2016. Acumula mais de 600 MW de capacidade instalada e deve vivenciar uma corrida para a instalação de projetos ao longo de 2019.

Empresas e consumidores buscarão garantir a entrada no modelo atual de compensação de energia. As regras atualmente em vigor são consideradas extremamente atrativas – com a geração de créditos de energia na proporção de um para um, por exemplo -, mas serão atualizadas no final do próximo ano, com uma nova regulação a vigorar a partir de 2020.

Globalmente, o crescimento da geração distribuída e das microrredes também tem incentivado a queda de preços e ganho de escala das baterias, assim como os veículos elétricos. São tecnologias relacionadas e é comum que empresas ofereçam soluções integrando-as.

2 – Comercialização direta

A abertura gradual do mercado livre, prevista em diversas iniciativas do governo e instituída em parte por decreto na última semana, deve incentivar o direcionamento de energia nova e existente para esse ambiente de contratação. O movimento já foi observado em 2018, com empresas de geração renovável realizando leilões de compra ou venda direta, sem intermédio das distribuidoras.

Os geradores terão cada vez mais que desenvolver sua área comercial, aprendendo a ofertar diferentes produtos para diferentes perfis de consumidores. A sensibilidade à variação de preços de venda também aumentará.

Por outro lado, a discussão levantada ao longo de 2018 sobre o peso dos subsídios tarifários para consumidores de fontes renováveis, que vem crescendo com a migração de consumidores especiais, pode ter impacto sobre a competitividade das fontes renováveis no mercado livre.

Mesmo em termos de geração distribuída, a venda de excedentes de produção para outros consumidores também está em debate. A possibilidade, mais remota, está prevista em sugestões para a audiência pública sobre a regulação da microgeração.

4 – Diversificação de crédito

O BNDES segue como a principal fonte de financiamento de projetos do setor. Mas a aproximação de sua taxa básica de juros das taxas praticadas pelo mercado e a participação menor no financiamento total de projetos incentivam a busca por opções complementares de crédito. O BNB ganha espaço, tendo superado o BNDES em apoio a geração solar, por exemplo. Mas o histórico do banco regional, que interrompeu o apoio a projetos de energia por quase cinco anos, levanta dúvidas sobre a longevidade dessa oferta de crédito incentivado.

O mercado de capitais também oferece alternativas e as debêntures têm sido uma fonte recorrente de crédito complementar, com prazos mais curtos e taxas mais altas – foram R$ 12 bilhões em emissões até setembro de 2018, contra R$ 7,4 bilhões no ano anterior. Mas novos desenhos são estudados, como a “roupagem” sustentável dos Green Bonds, procurados por investidores institucionais com recursos reservado para projetos ligados ao combate às mudanças climáticas.

No ano passado, pela primeira vez uma empresa brasileira de energia, a Faro Energy, realizou uma emissão de títulos verdes no mercado internacional, embora não tenha divulgado o volume contratado.

5 – Empresas de óleo e gás investindo em renováveis

A tendência já é antiga, mas ganha força com as parcerias anunciadas ao longo de 2018. A Petrobras fechou acordos com a norueguesa Equinor (antiga Statoil, cuja mudança de marca também é sinal de uma guinada para diversificar investimentos) e a Total Eren, braço de renováveis da petroleira francesa Total. Com a primeira, a Petrobras tem um memorando de entendimento para desenvolver eólicas offshore. A petroleira brasileira já conduz um projeto de P&D da fonte, localizado no Rio Grande do Norte, com resultados previstos para agosto de 2021. E a Equinor tem participação de 43% em um projeto solar de 162 MW, no Ceará.

Já com a Total, a Petrobras tem acordo que prevê o desenvolvimento de 500 MW em projetos eólicos onshore e solares. A Total Eren já opera usinas solares no Brasil, e com a uma capacidade contratada total de 140 MWp. Em entrevista à Brasil Energia, o presidente da Total Eren Brasil, Pierre-Emmanuel Moussafir, disse que a empresa também pretende investir em eólicas, mirando projetos já desenvolvidos ou com contratos de fornecimento.

 

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