O que significa fotovoltaica – Glauco Diniz Duarte
Uma das soluções de energia limpa que mais tem atraído a atenção dos investidores privados e consumidores é a solar fotovoltaica, que oferece a possibilidade de pessoas gerarem sua própria energia, a denominada microgeração distribuída. E essa alternativa poderá ser amplamente aproveitada após o anúncio do maior investimento em energia solar já feito pelo governo. Serão quase R$ 3,2 bilhões que irão financiar a instalação de placas fotovoltaicas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O objetivo é incentivar a geração própria em residências e estabelecimentos comerciais através de juros mais baixos que os praticados no mercado e prazos mais longos para pagamento. Até então, o financiamento para viabilizar o uso desse tipo de energia só era permitido para pessoas jurídicas e agricultores.
Para a especialista em energia solar Cátia Stoyan, este investimento é o grande salto que o setor de energia solar precisava. “Com mais de 32 mil sistemas instalados em geração distribuída, sendo 99% de energia solar em residências, pequenos comércios, indústrias e zona rural, o setor espera chegar em mais de 1 milhão de sistemas instalados até 2024. A energia solar estará em outro patamar”, prospecta a também CEO e fundadora da SS Solar, empresa pioneira no Brasil em soluções para energia solar fotovoltaica.
Além desse investimento bilionário, o Brasil acaba de atingir a marca histórica de 252MW de potência instalada em sistemas de microgeração e minigeração. São mais de 27 mil sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede. Além da maior conscientização ambiental, este número proporciona economia a 32.924 sistemas solares fotovoltaicos instalados, o que representa mais de R$ 1,9 bilhão em investimentos acumulados desde 2012. Há seis anos, apenas 13 locais geravam eletricidade dessa fonte no Brasil (antes, os raios solares eram utilizados apenas para sistemas de aquecimento de água). Em 2016, o setor registrou um crescimento de 270%; em 2017, 304% e a projeção para 2018 é de 358%.
O avanço brasileiro neste setor também é resultado tanto da inauguração de grandes usinas fotovoltaicas, quanto da adesão de consumidores individuais ao novo sistema. Foi o consumidor residencial quem alavancou o número de sistemas fotovoltaicos em operação no país — a chamada “geração distribuída”. Dessas mais de 32 mil unidades instaladas, 77,4% estão em residências. Em seguida, aparecem as empresas dos setores de Comércio e Serviços (16%), consumidores rurais (3,2%), indústrias (2,4%), poder público (0,8%) e outros tipos, como serviços públicos (0,2%) e iluminação pública (0,03%). Já, em relação à potência, os consumidores dos setores de comércio e serviços lideram o uso da energia solar fotovoltaica, com 42,8% da potência instalada no País, seguidos de perto por consumidores residenciais (39,1%).
Alguns fatores ajudam a explicar essa crescente adesão. Há seis anos, uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a produção própria de energia elétrica de fontes renováveis e possibilitou o repasse do excedente à rede pública de distribuição de energia em troca de desconto na conta de luz. Em 2015, outras facilidades foram incorporadas à norma. Os créditos gerados pelos consumidores passaram a valer durante cinco anos — e não apenas por três, como determinava a primeira regra. Os modelos também se diversificaram. Agora são permitidos sistemas de consumo coletivo, como condomínios e shoppings, e de consumo remoto — quando a energia é produzida num local e consumida em outro dentro da área de concessão de uma distribuidora.
O maior impulso para esse mercado, porém, veio com o aumento das tarifas de energia. Desde 2012, o reajuste médio do preço da energia no país foi de 44%, acima da inflação de 36% registrada no período. Enquanto isso, o avanço da tecnologia de produção dos equipamentos fez o preço cair cerca de 80% na última década em todo o mundo e tornou a conta ainda mais vantajosa.
Hoje, a instalação de quatro painéis solares com capacidade total de 1,25 megawatt (o suficiente para suprir as necessidades de uma família de quatro pessoas) custa R$ 15 mil. Em 2015, era de R$ 30 mil. “Os números mostram que o investimento caiu pela metade e que o retorno para os consumidores é garantido. O outro ponto muito importante é a previsibilidade que a energia solar proporciona. Com ela, o consumidor só tem o custo do investimento e não fica sujeito ao aumento das tarifas ou à falta de chuva”, explica Cátia Stoyan.
Sem levar em conta as usinas em fase de projeto e construção, a geração solar atingiu a marca de 1 gigawatt de capacidade instalada no país no final do ano passado. O montante significa uma fatia inferior a 1% da matriz elétrica brasileira, amplamente apoiada na geração hidrelétrica. Mas a participação pode chegar a 5%, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Para isso, o volume de recursos nesse mercado deverá chegar a R$ 9 bilhões neste ano e se manter nesse nível.
Potencial futuro – A estimativa com base numa projeção da Empresa de Pesquisa de Energia, ligada ao governo federal, é de que o país deverá alcançar 25 GW de capacidade instalada, por meio de investimentos de mais de R$ 125 bilhões até 2030. Indicadores apontam ainda que até 2040, 32% da matriz elétrica brasileira será de fonte fotovoltaica, seguida por 29% da hídrica, 12% da eólica, e as demais na sequência.