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GLAUCO DINIZ DUARTE

Glauco Diniz Duarte – porque a energia solar ainda é pouco utilizada

Glauco Diniz Duarte - porque a energia solar ainda é pouco utilizada
Glauco Diniz Duarte – porque a energia solar ainda é pouco utilizada

Glauco Diniz Duarte – porque a energia solar ainda é pouco utilizada

Em 20 de outubro de 2016, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido-UFERSA inaugurava sua primeira usina solar, com 580 painéis, fabricados com células de silício policristalino, com potência nominal de 260W cada, o que confere à usina uma potência instalada total de 150,8 kWp, em uma área de 933 m² de painéis, distribuídos em um parque de 1.984 m², além de 10 Inversores com potência de 15 kW, cada, totalizando 150 kW e um Transformador de 150kVA. Quase dois anos depois, venho compartilhar um pouco da minha experiência nesse projeto, e tentar responder a pergunta do título de forma independente e baseada em de dados reais de produção e a partir da análise do custo efetivo de um projeto real e não de valores estimados, comumente empregados pelo mercado e pela literatura acadêmica.

Não é segredo para ninguém que a energia elétrica comercializada no Brasil possui preços exorbitantes, além disso, a tarifa contempla diversos tipos de tributos como: ICMS, PIS, COFINS, bandeiras tarifárias e contribuição de iluminação pública. Essa política tem prejudicado essencialmente as pequenas e médias empresas brasileiras, responsáveis pela maior geração de empregos no país. Este cenário tem incentivado as empresas a buscarem soluções para reduzir seus custos com energia elétrica, e segundo a ANEEL, em setembro de 2018, mais de 38.000 unidades consumidoras já utilizam a energia solar no país, com destaque para os Estados de Minas Gerais e São Paulo com mais de 7.000 consumidores com geração distribuída em cada Estado.

Entretanto, nos últimos anos, diversas pesquisas acadêmicas concluíram que existe uma baixa viabilidade econômica na utilização de energia solar fotovoltaica no Brasil, principalmente para consumidores residenciais e comerciais. Essas avaliações divergem totalmente do cenário de crescimento em geração centralizada e distribuída que ocorre no país. Ora, essa indústria deve movimentar bilhões de Reais ainda em 2018. De fato, somente um leilão da ANEEL de geração centralizada, realizado neste ano, movimentou R$ 6,74 bilhões em contratos com o Governo, com preço médio de R$118,07/mWh. Por outro lado, as distribuidoras regionais de energia comercializam o MWh entre R$309,00 a R$765,00 para clientes residenciais e comerciais. Esses valores além de altos, não contemplam nenhum tipo de tributo como ICMS, PIS, COFINS, bandeiras tarifárias e contribuição de iluminação pública. No Rio grande do Norte o MWh é comercializado a R$481,00, e com a inclusão dos tributos o preço do MWh fica bem próximo aos R$800,00.

De acordo com o Índice COMERC Solar, publicado em agosto de 2018, o payback dos projetos de energia solar fotovoltaica de baixa tensão nas capitais fica entre 2,86 anos em Teresina/PI e 6,63 anos em Rio Branco/AC. Natal ficou com a quarta posição com payback de 3,08 anos. De fato, a energia solar tem sido uma alternativa interessante para empresas potiguares reduzirem o orçamento destinado para o pagamento de energia elétrica.

Os números da UFERSA de geração de energia solar são impressionantes, principalmente porque a usina solar está localizada na cidade de Mossoró/RN, capital do semiárido brasileiro. Em seu primeiro ano de funcionamento, a usina solar produziu 244.165 kWh, o que representa uma média mensal de 20.176 kWh, ou seja, cada kWp instalado na universidade produziu em média 134 kWh/mês. Isso significa que cada kWp instalado foi capaz de produzir em média 4,46 kWh por dia.

Outro dado importante a ser considerado na análise de viabilidade de um projeto de energia solar é o custo real de instalação, medido em R$/kWp. Observou-se que os valores dos equipamentos de um sistema de energia solar caíram exponencialmente nos últimos anos. Já em 2018, a UFERSA contratou novas usinas solares para atender os campi das cidades de Angicos, Caraúbas e Pau dos Ferros. O valor global dessa contratação foi R$781.875,00 para instalação de 187,5kWp, sendo 62,5kWp em cada campus. Nesse projeto foram utilizados módulos vidro-vidro, com eficiência nominal de 17,3%, garantia de produtividade de 30 anos, instalados em estruturas de solo e inversores com rendimento nominal de 98,4% e com possibilidade de estender a garantia dos inversores em até 20 anos. Cada kWp instalado teve um custo unitário de R$4.170,00. Nesse sentido, espera-se que os valores acordados em uma livre negociação entre empresas privadas sejam inferiores aos praticados na Administração Pública, onde existe uma forte regulamentação para compras públicas, o que reduz consideravelmente a competição entre os interessados.

Destaca-se ainda, que existem outras alternativas para reduzir ainda mais o preço do kWp em um projeto de energia solar, principalmente através da união de consumidores residenciais ou empresariais, dentro da mesma área de concessão, que podem se organizar por meio de cooperativa ou sociedade de propósito específico – SPE para produzirem sua própria energia, e dividirem os ganhos de forma proporcional ao investimento realizado. Nesse modelo de geração compartilhada, torna-se viável até a importação de equipamentos diretamente com seus fabricantes, permitindo uma redução de até 30% no valor do projeto.

Outra recomendação importante é a instalação de usinas solares em local diferente das unidades consumidoras nas quais a energia excedente será compensada, tendo em vista que em áreas urbanas, nem sempre existe disponibilidade de espaço para instalação dos painéis. Nessas situações, deve-se optar pela implementação de projeto em cidades do semiárido, onde o custo de terreno é muito baixo, e com elevados índices de irradiação solar. Pode-se ainda, optar por um modelo do contrato onde o proprietário do terreno participe da cooperativa ou da SPE e receba royalties em energia elétrica pela concessão da área utilizada na implantação do projeto.

Depois de definido o local do projeto, outro aspecto a ser considerado é a qualidade e a confiabilidade dos equipamentos utilizados. Não basta apenas o fabricante afirmar que os módulos fotovoltaicos possuem garantia de produtividade de 25 anos, deve-se buscar conhecer os detalhes de cada produto. Quais são as garantias que a empresa fornecedora desses equipamentos irá existir daqui a vinte ou trinta anos? E se a empresa terá saúde financeira para honrar com a garantia prometida? Para mitigar esse risco, recomendo a consulta do ranking de bancabilidade da Bloomberg, que enumera os fabricantes com desempenho financeiro satisfatório e que provavelmente poderá honrar os compromissos assumidos com seus clientes.

Além disso, na análise de projetos dessa natureza, deve-se definir a vida útil do sistema em apenas 20 anos, que é o período máximo de garantia dos inversores, ou caso decida-se utilizar um prazo maior, por exemplo, 30 anos, recomenda-se considerar os custos de uma substituição dos inversores e restruturação do sistema com a compra de novos painéis, já que o fabricante prevê a queda de 0,5% ao ano na produtividade dos painéis solares fotovoltaicos.

A partir desses dados, e de acordo com a regulação atual para geração distribuída, entendo que a realização de investimentos em energia solar é um excelente negócio, já que no Brasil existem poucas possibilidades de investimentos com a mesma atratividade existente nesse tipo de projeto, onde em alguns casos o payback fica abaixo de três anos. Além da óbvia vantagem financeira, existe outras vantagens na utilização da energia solar:

  1. Energia segura, limpa e de qualidade;

  2. Proteção contra os aumentos frequentes da concessionária;

  3. Proteção contra o sistema de bandeiras tarifárias;

  4. Garantia de produtividade de até 30 anos para módulos fotovoltaicos e até 20 anos para inversores;

  5. Possibilidade de transferência de produção para outras unidades consumidoras;

  6. Monitoramento remoto da produção através de website e app;

  7. Redução das emissões de gases do efeito estufa;

  8. Os créditos de kWh podem ser utilizados por até 60 meses após a data do faturamento;

  9. Possibilidade de demonstrar aos seus clientes que a empresa se preocupa com as questões socioambientais, através da utilização do selo solar.

Com todos esses benefícios, e com a vocação natural para produção de energia solar, o Estado do Rio Grande do Norte possui apenas 564 unidades consumidoras com geração distribuída, o que representa apenas 1,45% do total nacional. Espero que esse pequeno artigo possa despertar os empresários potiguares e a sociedade civil para o potencial da energia solar como um dos fatores de estímulo a competitividade empresarial e como um dos indutores para o desenvolvimento do semiárido.

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