Glauco Diniz Duarte – como investir em energia renovavel
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que uma mudança está em curso na produção de energia no planeta. O investimento em fontes renováveis — como biomassa, eólica e solar — bateu o recorde mundial no ano passado, atingindo a marca de US$ 286 bilhões. Pela primeira vez, a maior parte da verba circulou entre os países em desenvolvimento. Neles, o fomento à chamada energia limpa aumentou 19% em 2015; nas nações ricas, o índice diminuiu 8% no mesmo período.
Os recursos destinados à energia renovável são mais do que o dobro dos recebidos por usinas de carvão e a gás (US$ 130 bilhões). Ao todo, desde 2004, o mundo investiu US$ 2,3 trilhões em fontes limpas de eletricidade.
De acordo com o Pnuma, diversos fatores podem ter contribuído para que os países em desenvolvimento superem as nações ricas na quantidade de investimentos em renováveis. Entre eles, a crise econômica que afligiu os países ricos nos últimos anos e a necessidade dos emergentes, sobretudo China e Índia, de atender a demanda provocada pelo crescimento da população.
Chefe da unidade de finanças da Divisão de Economia do Pnuma, o canadense Eric Usher avalia que ambas as potências asiáticas se aproveitaram dos preços cada vez mais baixos exigidos para a produção de energia limpa.
— O investimento necessário para a aplicação da energia não poluente caiu consideravelmente nos últimos seis anos, e os países em desenvolvimento souberam criar projetos eficientes para aproveitá-las — elogia Usher, coautor da edição deste ano do relatório “Tendências Globais para o Investimento em Energia Renovável”. — A Europa está encurralada pela crise econômica, o que a fez desacelerar um pouco o abandono dos combustíveis fósseis e pode ter afetado a vontade política de alguns governantes, mas entramos em um caminho sem volta. Vamos continuar batendo recordes na adoção das fontes limpas.
Os países que ostentaram maior aumento do investimento em energias renováveis no ano passado foram China (que elevou as verbas para o setor em 17%, atingindo US$ 102,9 bilhões), Índia (22%, chegando a US$ 62 bilhões) e África do Sul (329%, alcançando US$ 4,5 bilhões).
Entre as nações ricas, os EUA elevaram em 19% as verbas para fontes limpas, alcançando US$ 44,1 bilhões. Foi uma conquista relevante, sobretudo após a suspensão pela Suprema Corte, no ano passado, do Plano de Energia Limpa, o mais ambicioso projeto do país voltado às mudanças climáticas. O plano lançado pelo presidente Barack Obama sofreu forte oposição de industriais e foi rejeitado por governadores de quase 30 estados. Na Europa, o investimento caiu 21%, regredindo para US$ 48,8 bilhões.
O Brasil também figura no rol dos países que retraíram seus investimentos. Aqui, o governo federal tem US$ 7,1 bilhões reservados às fontes renováveis, uma redução de 11% em relação a 2014.
Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservação Internacional no Brasil, atribui a redução constatada na pesquisa à prioridade dada pelo governo às hidrelétricas.
— O Brasil ainda vive um rescaldo do forte investimento na ampliação da matriz energética a partir das hidrelétricas — explica. — Nos últimos cinco anos, multiplicamos a capacidade de produção de energia eólica, mas sua representatividade poderia ser muito maior. E avançamos ainda menos na energia solar, devido ao alto custo dos equipamentos, à burocracia e à falta de incentivos fiscais.
HIDRELÉTRICAS CONTESTADAS
Secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl assinala que, daqui a dez anos, a energia solar será a fonte mais barata disponível.
— Para um país que atravessa uma crise econômica, como é o nosso caso, o fomento às fontes renováveis precisa ser estimulado — destaca. — Os empresários do setor de energia eólica pretendem criar até 50 mil novos empregos este ano.
Atualmente, 77,9% da geração de eletricidade no Brasil vem de hidrelétricas. O foco nacional nesta matriz é visto com ressalva pelos analistas.
— Não sou particularmente contra estas usinas, mas são uma fonte controversa de energia — opina Usher. — Não acredito que ela deve servir para combater sozinha todas as demandas de um país.
Para os especialistas, o acordo global traçado na Conferência do Clima em Paris, no fim do ano passado, deve inspirar a troca de usinas a carvão por outras dedicadas à energia eólica e solar. Ao divulgarem quais medidas tomarão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a maioria das nações se comprometeu a mudar sua forma de gerar eletricidade.
— Além de uma questão de mercado, a energia também é uma ferramenta política — ressalta Usher. — A comunidade internacional está determinada a cumprir as metas assinadas durante a conferência climática.
Os autores do relatório do Pnuma admitem que a queda recente do preço do petróleo pode fazer a geração tradicional de energia mais “atraente”. No entanto, as fontes renováveis podem assegurar sua sobrevivência com as declarações dos líderes do G-7, que, reunidos no ano passado na Alemanha, concordaram em diminuir a dependência de suas economias dos combustíveis emissores de carbono.