O campus da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) no município de Biguaçu, em Santa Catarina, eliminou completamente sua dependência da energia elétrica convencional. Desde o início deste ano, está em operação na unidade de ensino uma usina de geração de energia renovável composta por 596 painéis fotovoltaicos, implantados em uma área de 1.000m2. A potência instalada do sistema é de 157kW, com capacidade estimada de geração anual de 196MWh. Segundo a administração da instituição, este campus é o primeiro do Brasil a gerar 100% da energia que consome. Essa mudança é um exemplo de como a energia solar vem ganhando espaço no País, contribuindo para a preservação dos recursos naturais e da sustentabilidade econômica.
Os sistemas de geração de energia a partir da luz solar – uma fonte democrática e gratuita – proporcionam também uma série de vantagens, tanto para quem utiliza quanto para a sociedade. Inclusive, estimulam outras iniciativas em direção à sustentabilidade. No caso da Univali Biguaçu, paralelo à implantação da usina de energia renovável, houve a substituição de 1,4 mil lâmpadas fluorescentes por LED. Essa troca também ocorreu nos campus de Itajaí e Balneário Piçarras, somando, nas três unidades, um total de 8,3 mil lâmpadas. Tais medidas, combinadas a outras complementares, permitiram reduzir em 57% o consumo de energia. Essa transformação foi feita com recursos do PEE (Programa de Eficiência Energética) da Celesc, a empresa Centrais Elétricas de Santa Catarina.
Outro exemplo de parceria entre uma instituição de ensino e uma empresa do setor de energia vem de São Carlos, no interior de São Paulo. A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e a CPFL paulista assinaram um termo de cooperação técnica, envolvendo investimentos de R$ 2,7 milhões, para a substituição de lâmpadas comuns por LED e a implantação de usinas solares fotovoltaicas nos campus de São Carlos e de Sorocaba. Toda a operação ficará a cargo da CPFL, que deve entregar o empreendimento até dezembro deste ano. A negociação envolve, ainda, cursos e capacitações da Universidade para os profissionais da CPFL.
A usina implantada em São Carlos, de 2,2kW, será usada para fins didáticos. Já a de Sorocaba (12,6kWp), fornecerá uma parte da energia utilizada no campus. Já a troca de lâmpadas envolverá mais de 2,4 mil luminárias externas em São Carlos e mais de 7,4 mil lâmpadas em Sorocaba. “Além da economia de grande parte da energia que consumimos, a implantação das usinas fotovoltaicas vai colaborar para processos de formação e criar uma cultura de sustentabilidade na comunidade”, afirma Wanda Hoffmann, reitora da UFSCar, que acrescenta: “Já está em andamento um projeto de eficiência energética no campus de Araras, uma parceria com a concessionária Elektro que envolve investimentos de R$ 1,3 milhão”.
Informações e recursos
A popularização dos sistemas de energia solar no Brasil depende, principalmente, de dois fatores: informação e redução de custos. E um favorece o outro. Grande contribuição para o fornecimento de dados sobre este segmento vem do estudo Cadeia de Valor da Energia Solar Fotovoltaica no Brasil, trabalho realizado por uma parceria entre o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos). A pesquisa contou ainda com a colaboração da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). “Trata-se de um estudo inédito no País, de utilidade prática, que vai subsidiar instituições e empresas atuantes na cadeia na formulação de estratégias competitivas”, afirma Eliane Borges, coordenadora nacional do Macrossegmento Energia no Sebrae Nacional. “O Brasil é um país fotovoltaico por excelência, com um dos melhores recursos solares do planeta. Há diversas oportunidades para empreender nos diferentes elos desta cadeia em todas as regiões”, avalia Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar.
Além de um panorama nacional e mundial da cadeia de energia solar fotovoltaica, esse trabalho do Sebrae aborda inúmeros outros temas, como legislação e regulamentação, financiamento, instituições de apoio e os diversos campos de oportunidades. A análise da competitividade e das potencialidades do setor mostra também onde há fragilidades. A pesquisa traz, por exemplo, avaliação sobre as possibilidades para negócios complementares, como fabricantes de bens (equipamentos e componentes do sistema fotovoltaico). Nesses casos, há uma preocupação com o alto investimento, a necessidade de expertise e equipamento altamente técnico.
As maiores chances podem vir do setor de serviços, como integradores de sistemas fotovoltaicos, consultorias e assessorias diversas, certificadoras e terceirização para grandes empresas de operação e manutenção. O estudo completo está disponível para download no portal do Sebrae na Internet, na área “Organização”.
O cooperativismo também tem gerado iniciativas para estimular o avanço da energia solar fotovoltaica no Brasil. Em Paragominas (PA), um programa multilateral chamado Paragosol garante descontos na CIP (Contribuição de Iluminação Pública) para quem produz sua própria energia a partir de sistemas sustentáveis. A proposta foi feita pela Coober (Cooperativa Brasileira de Energia Renovável), com apoio do Sistema OCB-PA, à prefeitura de Paragominas, que se comprometeu a propor legislações favoráveis ao uso da energia solar fotovoltaica. De acordo com a Coober, Paragominas poderá ser o primeiro município brasileiro a ter esse tipo de desconto. “Teremos uma ação pioneira de incentivo à sustentabilidade energética, justamente onde nasceu o cooperativismo de energia renovável no País”, comenta Raphael Vale, presidente da Coober.
O desenvolvimento deste setor chegou também ao cooperativismo em Mato Grosso. Por meio do Pesi (Programa de Energia Sustentável da Indústria), inciativa da Fiemt (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso), o Sicredi passou a oferecer uma linha de crédito para financiar projetos energéticos eficientes e de baixo impacto ambiental. Essa opção, que apesenta condições especiais, está disponível a empresários do setor industrial filiados à Fiemt e a associados da instituição financeira para a aquisição de kits de geração de energia fotovoltaica. Ou seja, há possibilidades para pessoas jurídicas e físicas.
Mais do que fomentar soluções alternativas de geração de energia sustentável com custos menores e crédito acessível, esse programa visa a dar a destinação correta para resíduos e estimular o conhecimento e a adoção de práticas sustentáveis. “Está no DNA do cooperativismo o estímulo à sustentabilidade”, diz João Spenthof, presidente da Central Sicredi Centro Norte.