Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, devido à pandemia do novo coronavírus, a construção civil no Brasil viveu altos e baixos em 2020 e concluiu o período com recuo de -2,8%. No entanto, a projeção é de crescimento de 4% para este ano, em relação ao ano passado, na avaliação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Segundo o economista Fernando Garcia, fundador da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, o setor sofreu dois efeitos controversos em 2020: o da tendência positiva e, depois, o da pandemia, os quais mexeram com toda a economia.
Em relação à tendência positiva, o mercado vinha desde 2018 surfando na queda intensa das taxas de juros. Nesse processo, houve perda da atratividade dos títulos públicos. Assim, os investidores começaram a procurar alternativas, com risco semelhante, mas com rentabilidade melhor. O segmento da construção civil foi beneficiado por essa fase.
No entanto, ocorreu o que na economia é classificado como “evento x”: algo inesperado, imprevisível. A referência, claro, é à pandemia do novo coronavírus que paralisou o planeta e trouxe incertezas.
As construtoras mobilizaram-se para garantir que o setor fosse reconhecido como atividade essencial e tiveram de operar seguindo os protocolos de segurança.
“Isso foi positivo, pois as obras não foram paralisadas. E não havia tanto risco para o trabalhador, já que, geralmente, a construção ocorre em áreas abertas”, comenta o economista.
A redução mais intensa dos juros também provocou outro efeito: os ativos reais e financeiros ficaram com a taxa de rendimento negativa e houve a migração natural para as despesas correntes.
“O sentimento das pessoas era: ‘Vamos realizar o futuro hoje’. E a construção civil apareceu como única opção, já que não era possível viajar, por exemplo. Houve um rebatimento comportamental: ‘Vamos melhorar a casa, ir para o interior, nos estruturar para o home office’. Foi um choque que deu uma mudança positiva para os bens imobiliários”, explica Garcia.
Depois, houve a desarticulação entre a oferta e a demanda. As indústrias promoveram o distanciamento social, deram férias coletivas e o mercado não tinha volumes de estoques grandes. As lojas de materiais de construção foram fechadas, mas as construtoras não pararam de trabalhar. Com isso, a quantidade disponível para venda foi desaparecendo e, no meio do segundo semestre de 2020, surgiu um efeito negativo: a falta de materiais.
Apesar da recessão, na avaliação de Garcia, o balanço para a construção civil foi melhor do que se esperava no ano passado.
Perspectivas 2021 Com as vendas de imóveis no primeiro semestre de 2020, a expectativa é que as obras se iniciem agora. Em até 24 meses, devem chegar na etapa dos materiais de acabamentos e esquadrias, onde o consumo de alumínio é maior.
“A produção começou bem este ano. Toda a indústria de materiais para construção também está no positivo”, afirma Garcia.
De acordo com o economista, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor deve crescer um pouco mais do que o divulgado pela CBIC, cerca de 5,5% em 2021, na comparação com o ano anterior, voltando para os patamares de 2019. O mercado imobiliário em especial deve ter recuperação apenas para os segmentos de renda média e alta.
Mercado de esquadrias Diante do contexto, Alberto Cordeiro, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), explica que a falta de matéria-prima ainda não está totalmente resolvida. Apesar disso, a demanda se mantém porque existe um ciclo longo de pedidos.
“No longo prazo, o cenário ainda é positivo, uma vez equacionada a questão fiscal. Os juros estão baixos e isso ativa a construção civil. Existe a tendência de as pessoas investirem em imóveis”, afirma Cordeiro.
Segundo o dirigente, uma das novidades para este ano é que Afeal estabeleceu uma parceria com o Governo Federal e a Caixa para acelerar o combate à não conformidade, com foco no Programa Setorial de Qualidade de Portas e Janelas de Correr de Alumínio (PSQ).
“Vamos poder coletar produtos dentro das obras financiadas para executar testes. Isso vai gerar um grande salto de qualidade no setor”, declara.