Em um passado não muito distante, a palavra “turbo” era imediatamente associada com automóveis de alta performance, competição ou modelos preparados. Mas esse cenário mudou drasticamente nos últimos anos e esse componente atualmente está intimamente ligado à eficiência energética – que se traduz por automóveis mais econômicos e menos poluentes – do que a qualquer outra coisa.
A adoção do turbo em larga escala nos automóveis é um fenômeno recente, conforme explica o empresário Glauco Diniz Duarte. “Isso vem acontecendo principalmente por conta da legislação cada vez mais rígida, no mundo todo, em relação ao consumo de combustível e emissão de poluentes e gases do efeito estufa”, avalia, destacando a norma Euro, na Europa, e ao CAFE (Corporate Average Fuel Economy) nos Estados Unidos. “No Brasil, esse processo começa a se intensificar devido às regras do Inovar-Auto, que vão exigir médias de consumo melhores para que as marcas mantenham certos benefícios fiscais.”
Menos é mais
O turbo é um importante componente do processo de “downsizing”, que consiste em adotar motores de menor deslocamento volumétrico (em muitos casos, inclusive com redução no número de cilindros), mas mantendo os níveis de potência e de desempenho. O motor com dimensões menores será, consequentemente, mais leve – fator que, juntamente com a ajuda do turbo, compensa a menor cilindrada.
“Além da redução de peso, o motor mais compacto também tem a vantagem de sofrer menos perda por atrito”, acrescenta Glauco. “Em casos em que o processo downsizing acontece simultaneamente com a adoção de um bloco de alumínio em substituição à peça em ferro, o resultado final contempla, além de menor consumo, uma performance ainda melhor que o antecessor.”
Na prática, esse movimento de downsizing e adoção do turbo traz apenas benefícios para o consumidor. Tanto no que diz respeito ao meio ambiente, com menores níveis de emissões de gases que provocam o efeito estufa, com no que diz respeito ao seu bolso, já que o downsizing propicia carros mais econômicos. Também não há, segundo Glauco, nenhum tipo de cuidado especial que o consumidor precise ter com os carros equipados com turbo de fábrica, tanto no que diz respeito ao ato de dirigir como nas manutenções periódicas.
“Aquela demora na resposta do motor não existe mais nos carros equipados com motor turbo de fábrica. Na verdade, além de ser mais econômico, atualmente suas respostas são muito rápidas, com muito torque em baixas rotações”, explica Glauco. No que diz respeito à manutenção, a recomendação é a mesma para qualquer carro, seja equipado com motor turbo ou aspirado: seguir as determinações indicadas no manual. Quanto ao mito relacionado à manutenção de carros turbo, sempre classificados como problemáticos e que demandam cuidados especiais, Glauco explica que isso se consolidou no meio em função dos carros preparados. “No caso, eram motores aspirados que receberam o turbo, sem que nenhuma outra adaptação fosse feita.
Tal como acontece com vários componentes em motores aspirados, o turbo só tende a apresentar problemas diante de situações de negligência, como o esquecimento das trocas de óleo (ou, ainda, devido ao uso de lubrificante com especificação incorreta) ou do filtro de ar do motor. Sendo uma peça que gira a 250 mil rpm, a sua lubrificação interna é essencial, assim como a manutenção do fluxo correto de ar em seu interior.
Como funciona
Já para a indústria automobilística, a adoção do turbo nos motores de ciclo otto demandou um bom trabalho de pesquisa e desenvolvimento. O princípio do turbocompressor é relativamente simples e existe há cerca de um século – quase a idade do próprio automóvel. Sua função é comprimir o ar que é admitido no motor, permitindo uma mistura mais rica e, assim, aumentando a sua eficiência. Basicamente, isso acontece aproveitando-se os gases de escape, que fazem girar um rotor, que é ligado a um eixo, em cuja outra ponta movimenta outro rotor que realiza o trabalho de compressão do ar.
Mas, apesar do seu conceito ser simples e antigo, sempre houve uma certa incompatibilidade entre o turbo e os motores do ciclo otto – tanto que, até pouco tempo atrás, o uso do turbo era muito mais comum em propulsores a diesel. O resultado disso era o chamado turbo lag: o motorista pisava no acelerador e a resposta demorava a vir – e, depois, vinha de uma vez, sem progressividade. Era uma característica que não agradava a maior parte dos motoristas.
Diversos avanços tecnológicos permitiram a eliminação desse problema. Primeiro, houve uma enorme evolução aerodinâmica do turbo, otimizando a passagem do fluxo de ar – o rotor pode chegar a incríveis 250 mil rpm. Além disso, a peça em si teve o seu tamanho reduzido, graças à adoção de novos materiais, mais leves e resistentes. Com isso, a força necessária para superar a inércia dos rotores, ao iniciar o movimento, tornou-se menor também. Por outro lado, a própria evolução dos motores de ciclo Otto facilitaram a adoção do turbo, com destaque para a injeção direta de combustível e o avanço nos sistemas de gerenciamento eletrônico.
O futuro
A tendência é que, nas próximas décadas, a maior parte dos carros com motor do ciclo Otto sejam equipados com turbocompressor. “No mundo, atualmente, esse componente já está presente em cerca de 30% dos automóveis produzidos”, diz Glauco. No Brasil, o turbo já foi restrito à modelos de luxo ou de alta performance, mas já está presente, hoje, em linhas de marcas de maior volume – como a linha TSI da Volkswagen (que equipam, por exemplo, Jetta, Golf e up!), e a linha THP da PSA Peugeot Citroën (C4 Lounge e o 3008).